15 Mar Montanha
VOLUME NR1
“Montanha”
Chama-se Senhor Vulcão e traz-nos o seu primeiro volume de canções, “Montanha”. Há quem diga que é um disco de spoken word, folk rap, música bruta, ele prefere dizer que são 12 canções feitas à mão. Cruas, simples, inspiradas no dia-a-dia, na inversão social que vivemos. Fala de libertação e de amor.
Gravado em casa entre Janeiro e Março de 2012.
“Palavras na ponta da língua catapultadas pelo núcleo, uma escalada de sentimentos do sopé até ao cume”.
Senhor Vulcão
“Alvo”
De início, é apenas uma moinha. Uma comichão quase dor a borbulhar/uma urticária de incerteza. Pode ser coração, cabeça, estômago, baço, pâncreas, vesícula, intestinos, fígado. Não é certo. Pode até não ser nada. O melhor é não olhar. Ignorar. Fazer de conta que. Focar a atenção em. Qualquer coisa, vale tudo. Até ir embora ou o esforço por sentir nada ser tão ruidoso que é possível, até provável, de certeza, certezinha absoluta, que já desapareceu. Era só uma sensação, que disparate, um aperto que bem pode ter sido das calças, do cinto, de uma posição infeliz, de uma desconfiança geral do mundo. Nada. Outra vez nada. E ainda outra vez nada. Sim, deve ser isso: mesmo nada. Espingarda na mão, a vista a acomodar-se à mira. À frente, um espantalho. Um espantalho de um só olho. À volta, um silêncio justo, uma terra que não admite ser enganada. Igualdade de circunstâncias então: primeiro, inutilizar um dos olhos. Algo dramático como virar o primeiro tiro para dentro. Mas e se depois vier outro espantalho de dois olhos? Salvo pelo futuro, uma pala apenas, colada com cuspo na pálpebra e na consciência. Agora sim. Pontaria. Outra vez a moinha. Talvez venha do braço, talvez da perna. Na dúvida, ata-se o primeiro à segunda. Agora sim, tudo pronto, sem distracções. Equilíbrio: deficiente. Mira: instável. Pontaria: pouca. Disparo. Um de nós tombou.
Gonçalo Frota (jornalista do Público)
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